Se não a mais idosa, dona Catarina está entre as mais longevas de Buri - Foto: Débora Lopes de Arruda/ Acervo Pessoal.

Michel Lopes 08/05/2025

A idosa, Catarina Coelho Cavalcante celebra seus 102 anos de vida nesta sexta-feira (9). A ocasião é uma grande festa para a família da moradora centenária, que faz parte da história da cidade desde 1966.

Nascida em 1923, em Angatuba/SP, Catarina se mudou para Buri/SP há quase seis décadas. Durante muitos tempo, viveu no campo e há cerca de 40 anos, reside no bairro Além Linha.

Catarina é mãe de três filhos, dois homens e uma mulher, avó de sete netos e bisavó de seis bisnetos. Apesar da idade avançada, mantém uma saúde surpreendente: não tem diabetes, hipertensão ou qualquer outra doença crônica. 

Segundo familiares, o médico que a acompanha se surpreende com sua longevidade e saúde. Seu único problema de saúde está nas pernas, que a impedem de andar, além da consciência, que está comprometida pelo avançar da idade. Ainda assim, mantém a autonomia em aspectos como a alimentação, escolhe o que deseja comer e se alimenta sozinha.

Por não apreciar aglomerações e devido à sua condição de saúde, a família optou por não realizar festa neste aniversário. A homenagem, no entanto, fica registrada em palavras, como forma de valorizar sua trajetória marcada por superação, coragem e fé.

Catarina relembra com lucidez como era Buri em 1923: uma pequena cidade ainda sem asfalto, onde as pessoas andavam a cavalo.

A história de vida dela é marcada por grandes desafios. Casou-se jovem, mas foi abandonada pelo marido durante a terceira gestação. Ele era professor, porém o alcoolismo o impediu de manter o trabalho. Foi ela quem sustentou a família sozinha, trabalhando na roça mesmo durante a gravidez. O ex-marido ainda voltou para ver a filha recém-nascida, mas Catarina não o aceitou de volta, afirmando que “olho não sustenta filho”. Desde então, ele nunca mais apareceu.

Em suas memórias, Catarina também conta histórias marcantes da época, como a de uma vizinha muito pobre que buscava alimentos com soldados que combatiam durante a Revolução Constitucionalista. Certa vez, os soldados ameaçaram transformar o filho dela em “bucha de canhão”, o que fez  a vizinha a nunca mais pedir ajuda.

A base de sua alimentação sempre foi simples: arroz e feijão, quando havia. Muitas vezes, dava o pouco que tinha aos filhos e confiava que Deus a sustentaria. Segundo ela, mesmo passando necessidade, não sentia fome, tamanha era sua fé.

Mesmo hoje, seu maior desejo é voltar a andar para poder trabalhar novamente. Catarina é um verdadeiro exemplo de perseverança e força. Lutou incansavelmente para criar os filhos e construiu uma vida digna com muito esforço.

A mensagem que deixa à população de Buri é clara e inspiradora: 

“Enfrentem as dificuldades com esperança, porque tudo passa. É preciso acreditar no amanhã.”