O livro, a biblioteca e o tempo. 

Em minhas viagens escutei duas frases que me fizeram pensar muito em como a vida humana é singular e ao mesmo tempo espetacular. A primeira frase sempre me disse muito sobre as pessoas e seus modos de vida, sonhos e também suas ilusões. Espero não assustar o leitor ou de algum modo chatear aqueles que neste tempo já estão muitas vezes em seus limites, contudo esta frase traz verdades. Prontos? Lá vai.  “Todos somos páginas em branco ao nascer e um livro completo ao morrer”.  

Ora não sei bem se aceito a história de ser página em branco, afinal se nasce em uma comunidade, em um tempo e espaço determinados. Como posso ser página em branco se meu histórico familiar já diz tudo? Porém há uma beleza imensa em ser página em branco. É que se pode escrever algo totalmente novo (prefiro escrever a lápis. Se pode apagar e reiniciar).  

Mas voltando ao assunto, página em branco é mágica, é certeza de que eu posso fazer de meu amanhã algo totalmente novo segundo minha vontade e responsabilidade.  

Ao final seremos livros. É nesta parte que me pergunto. Será que minha história será como a do Peter Pan, com piratas e um menino que nunca quis crescer? Ou será uma história de amor pela vida e pelas pessoas? Será que haverá aventura e um tesouro escondido ao final?  

De uma coisa tenho certeza: sou eu quem escolhe o tempo e o espaço de minha história. E já que é assim, decidi que não quero dramas, nem terror, também não quero personagens sem sentido. Quero a vida ao vivo e em cores e quando ao final eu fechar meu livro que a crítica não seja ruim. 

Há várias maneiras de se contar a história. Eu prefiro o livro tradicional; o cheiro das páginas, o toque, os olhares, prefiro a vida real e presencial. Mas hoje em dia muitos livros (Pessoas) são digitais e é impressionante o número de histórias que lemos todos os dias. Não acho ruim, mas só tenho uma pergunta: Como você está contando sua história, você está sendo realista consigo e com os demais ou seu livro da vida é uma ficção? Bem foi mais de uma pergunta, preciso parar com isso. Continuemos. 

Lembre-se de que cada dia é uma página e durante a escrita podemos apagar, explicar não gostar, amar. Porém ao final do dia a página está acabada e ninguém pode voltar ao que já viveu.  Escreva bem suas páginas, pois ter de arrancar depois é muito doloroso. 

A segunda frase que me marcou durante minha história vem de um provérbio africano: “Quando um jovem morre perde-se um escritor, mas quando um velho morre perde-se uma biblioteca”.  Nosso tempo atual e o estado de coisas fez com que muitos bons escritores fossem embora cedo demais e também queimou muitas bibliotecas. Perdemos não apenas pessoas, mas histórias incríveis que ainda seriam escritas e outras tantas que não tivemos tempo para ler.  

Nós perdemos tanto tempo como a modernidade, que deixamos de ler a vida de nossos pais e avós. Também não damos tempo, nem deixamos que nossos filhos escrevam suas próprias histórias e muitas vezes arrancamos deles o direito de escrever suas vidas. Nos perdemos em espaços digitais e não vemos as flores de nossos jardins. Corremos atrás da felicidade, nos iludimos com histórias falsas de redes sociais e deixamos passar a vida, o tempo e não sabemos mais onde estamos.  

Uma última frase. Esta sim, mais atual em meus pensamentos. “Se você tivesse que viver sua vida novamente ao infinito. Se quando você morresse descobrisse que teria de viver tudo novamente. Como se Deus dissesse que você deveria fazer uma cópia do seu livro sem mudar nada. Isto seria para você uma alegria ou uma condenação?”  Como vai a escrita de teu livro?

Prof. Reginaldo da Silva